A Fuga dos Noldor

Escrito por Aegnor. Publicado em History of Middle-Earth

Este texto está na série History of Middle-Earth, no livro The Lays of Beleriand (volume III), e faz parte de um conjunto de poemas que Tolkien escreveu pelos anos 20 e foi sempre reescrevendo mas nunca os terminou. Este é o mais incompleto pois nunca passou da fase inicial.

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A Fuga dos Noldor de Valinor

Á! As árvores da Luz, altas e Formosas,
ouro e prata, mais gloriosas que o Sol,
do que a Lua mais magicas, sobre os prados dos Deuses
os seus braços fragrantes e jardins brilhantes
carregados de flores, outrora alegremente brilharam.
Na morte estão escurecidas, deixam cair as folhas
dos enegrecidos ramos feridos por Morgoth
e Ungoliant a sombria, a Tecedora de Escuridão.
Na forma de uma aranha desespero e sombra
um medo arrepiante e noite disforme
ela tece numa teia de tortuoso veneno
que é negro e mortal. Os seus ramos extinguem-se,
a luz e alegria das suas folhas estão apagadas.
As Trevas vão marchando, névoas de escuridão,
através dos salões dos Poderosos, silenciosos e vazios,
as portas dos Deuses estão por sombras envolvidas.

Olhai! os Elfos murmuram chorando em angustia,
mas não mais será acessa a alegria de Cor
nos tortuosos caminhos da sua cidade murada,
Tun coroada de torres, cujas cintilantes lâmpadas
estão afogadas em escuridão. Os vagos dedos
do nevoeiro vêem flutuando da desolação informe
e dos escuros mares. O som de trompas,
de cascos de cavalos apressando-se rapidamente
numa caçada sem esperança, eles ouvem ao longe,
onde os Deuses irados os culpados
através da triste sombra, agora montando como uma onda
sobre o Reino Abençoado, em cego terror
perseguem sem cessar. A cidade dos Elfos
está cheia de multidões. Nas escadas
esculpidas de cristal inúmeras tochas
olham e cintilam, manchando o anoitecer
e iluminando colunas de verde berilo.
Um vago rumor de vozes exaltadas,
enquanto que milhares percorrem os caminhos de mármore,
ali enche e perturba esses belos lugares
largos caminhos de Tun e muralhas de pérola.

Das Três Famílias a essa clamorosa multidão
não foram senão os Noldor atraídos.
Os Elfos de Ing aos antigos salões
e estrelados jardins que estão e brilham
sobre Timbrenting a torre montanha
nesse dia tinham subido às nebulosas
mansões de Manwë pela alegria e canção.
Ali Bredhil a Abençoada com manto azul,
a Senhora das Alturas tão adorável como a neve
com luzes brilhando das legiões de estrelas,
a fria Rainha imortal das montanhas,
demasiado bela e terrível, demasiado longe e alta
para olhos mortais, no salão de Manwë
sentava-se silenciosamente enquanto cantavam para ela.

Os Viajantes da Espuma, povo das águas,
Elfos das infinitas praias ecoantes,
das baias e grutas e lagoas azuis,
de areias prateadas semeadas com luar,
estrelas, sol, pedras de cristal,
pálidas gemas, pérolas e opalas,
nas suas brilhantes praias, onde agora sombras cegas
apanhavam o seu riso, transformando em tristeza
a sua alegria e maravilha, espantados estavam
debaixo de penhascos a esfriar chamando vagamente,
ou em navios amortalhados tremendo, esperando
pela luz que não mais seria acesa para sempre.

Mas os Noldor foram numerados por nome e família,
enfileirados e ordenados na grande praça
sobre a coroa de Cor. Ali gritou alto
o feroz filho de Finn. Tochas flamejantes
ele ergueu e agitou nas suas mãos bem alto,
essas mãos cuja arte o segredo escondido
sabiam, que nenhum Noldor ou mortal
alguma vez igualou ou dominou na magia ou habilidade.
"Olhai! morto está o meu senhor pela espada de fantasmas,
a sua morte ele bebeu às portas do seu salão
e profunda fortaleza, onde no escuro escondidos
os Três estavam guardados, as coisas inigualáveis
que nem Noldo, Elfo ou os Nove Valar
poderão refazer ou renovar na terra,
resculpir ou reacender por arte ou magia,
nem Fëanor filho de Finn que os criou antigamente -
a luz desapareceu do lugar onde ele os acendeu,
o destino da Elficidade está neles.

Assim a sabedoria insensata a sua recompensa ganhou
do ciúme dos Deuses, que nos guardam aqui
para os servir, cantar para eles nas nossas belas gaiolas,
criando-lhes gemas e jóias,
divertindo-se com os nossos amores,
enquanto eles desperdiçam e esbanjam o trabalho de Eras,
nem conseguem dominar Morgoth nas suas mansões sentados
em numerosos conselhos. Agora venham todos vós,
que têm coragem e esperança! O meu chamamento incita
à fuga, à liberdade em lugares longínquos!
Os bosques do mundo quais grandes mansões
ainda escuras, sonhos afogados em sono,
as planícies inexploradas e perigosas costas,
nenhuma lua ainda brilha nem aurora sobe
em orvalhos eternos,
muito melhores eram estes ousados passos
do que jardins dos Deuses cercados de sombra
cheios de ócio e dias vazios.
Sim! apesar da luz os ter acendido e a beleza
para além do desejo do coração nos ter mantido como escravos
longamente. Mas essa luz está morta.
As nossas gemas foram-se, as nossas jóias roubadas;
e os Três, os meus Três, três vezes encantados
globos de cristal por brilho imortal
iluminados, acesos pelo esplendor vivo
e a essência de todas as cores, a sua ansiosa chama -
Morgoth têm nos na sua monstruosa mão,
os meus Silmarils. Eu faço aqui juramentos,
inquebráveis laços para sempre me prenderem,
por Timbrenting e os eternos salões
de Bredhil a Abençoada que lá habita -
possa ela ouvir e escutar - para caçar sem fim,
infatigável, decidido através da terra e mar,
através de terras cercadas, montanhas solitárias,
sobre pântanos e florestas e nas temíveis neves,
até eu encontrar essas belas coisas, onde o destino está escondido
do povo da Elficidade e a sua sorte fechada,
onde só agora jaz a luz divina."

Então os seus filhos ao seu lado, os sete familiares,
o habilidoso Curufin, Celegorm o Belo,
Damrod e Diriel e o escuro Cranthir,
Maglor o poderoso, e Maidros o alto
(o mais velho, cujo ardor ainda com mais ânsia queimava
que a chama do seu pai, do que a ira de Fëanor;
o seu destino guardava um cruel fim),
estes saltaram com risos ao lado do seu senhor,
com mãos juntas ali levemente fizeram
o juramento inquebrável; o sangue desde ai
jorrou como um mar e gastou as espadas
de incontáveis exércitos, não tendo ainda terminado:

"Seja ele amigo ou inimigo ou suja criatura
de Morgoth Bauglir, seja ele um escuro mortal
que no futuro na terra viverá,
nem lei nem amor nem liga de Deuses,
nem poder nem misericórdia, nem o imparável destino,
defenderá da feroz vingança
dos filhos de Fëanor, quem só detiver, tirar
ou mantiver os belos encantados
globos de cristal cuja gloria não morre,
os Silmarils. Nós jurámos para sempre!"

Então um poderoso murmúrio foi aumentando
e a atenta hoste saudou-os ruidosamente:
"Deixa-nos ir! sim deixe-mos os Deuses para sempre,
no encalço de Morgoth sobre as montanhas do mundo
para a vingança e vitória! Os vossos juramentos são nossos!

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Alguns nomes são de uma fase inicial da mitologia e diferem do Silmarillion:

Cor - Tirion
Tun - Tuna
Ing - Ingwë
Timbrenting - Taniquetil
Bredhil - Varda
Finn - Finwë
Damrod - Amrod
Diriel - Amras
Cranthir - Caranthir
Maidros - Maedhros

Segundo Cristopher Tolkien a ideia do pai era continuar o texto passando pelo ataque a Alqualondë, a Profecia do Norte e o incêndio dos Navios.


Este poema foi traduzido por Aegnor