As 7 maravilhas da Terra média

De facto, numa das suas cartas (Carta 211 para Rhona Beare) Tolkien compara os Numenoreanos com os Egípcios pelo seu amor e poder de construir em grande e de forma massiva. Assim sendo, quais as construções da Terra Média feitas pelos Homens seriam candidatas a uma lista como as que se fazem no nosso mundo?
A lista que a seguir proponho é apenas uma escolha pessoal baseada em critérios como a imponência, a antiguidade e importância das estruturas para a narrativa. A ordem pela qual são apresentadas baseia-se na ordem de passagem da Irmandade do Anel (ou alguns dos seus membro) pelos locais onde se encontram.
Argonath
Assinalando o limite Norte do reino de Gondor, em Emyn Muil, ficavam as Argonath, os Pilares dos Reis. Estas enormes construções, cujo nome significa “duas pedras nobres”, são a representação de Isildur e Anárion, os primeiros reis de Gondor. A data da sua construção não é certa, apesar de se saber que foram mandadas erguer por ordem de Rómendácil II, que governou o reino entre 1304 e 1366 da Terceira Era.
O objectivo da construção desta majestáticas estátuas era o de colocar um aviso para todos aqueles que descessem o Anduin e que não fossem de sangue Edain, um aviso de que não eram bem vindos. As Argonath representavam toda a glória, majestade e poder de Gondor; a imponência destas estátuas e o efeito opressivo que exerciam sobre aqueles que por elas passavam é bem patente na passagem da Irmandade pelo Anduin.
Nesta passagem somos brindados com uma descrição pormenorizada das estátuas; atentemos no que Tolkien nos diz: “Lembravam-lhe [a Frodo] gigantes, enormes figuras cinzentas, silenciosas, mas ameaçadoras. Depois viu, finalmente, que tinham sido esculpidas e afeiçoadas: a arte e a força do antanho tinha trabalhado nelas e, apesar do sol e da chuva e inúmeros e esquecidos anos, ainda conservavam as feições em que tinham sido esculpidas. Sobre enormes pedestais alicerçados na água funda erguiam-se dois grandes reis de pedra, que continuavam a olhar para o Norte de olhos turvos e fonte enrugada. A mão esquerda de cada um deles erguia-se, de palma para fora, num gesto de advertência; a direita empunhava um machado, e cada cabeça ostentava um capacete e uma coroa em desintegração. Ainda irradiavam grande força e majestade, sentinelas silenciosas de um reino havia muito desaparecido.” (A Irmandade do Anel – O Grande Rio).
Por esta descrição é possível constatar que com o passar dos anos e as intempéries toda a magnificência das sentinelas de Númenor não se perde e que o impacto naqueles que as perscrutam manteve-se de espanto e temor.
Orthanc
Colocada no centro do anel de Isengard, junto à nascente do Rio Isen e na parte Sul das Montanhas Nebulosas, ficava a Torre de Orthanc, construída pelos numenoreanos durante o auge do reino de Gondor.
A data de construção desta imponente torre de 150 metros de altura é uma incógnita, sabendo-se apenas que foi edificada nos primórdios de Gondor quando o sangue numenoreano ainda corria forte no seu povo.
Construída com um tipo de pedra negra inquebrável, esta verdadeira maravilha da tecnologia parecia brotar da própria terra e não construída por mãos humanas; “quatro grandes pilares de pedra multifacetada tinham sido fundidos num só, mas, perto do cimo, abriram-se como chifres afastados, de bicos agudos como pontas de lança e acerados como facas” (As Duas Torres: A estrada para Isengard). Entre estes quatro chifres ficava uma sala sem tecto com estranhos sinais inscritos no seu chão; crê-se que era utilizada pelos sábios de Gondor para o estudo dos astros. O único acesso ao interior da torre fazia-se pela sua vertente leste através de uma porta precedida por um lanço de 27 degraus.
O nome Orthanc contém em si um duplo significado: Monte Colmilho em élfico, e Cérebro Astuto na língua de Rohan. Este segundo nome resulta da ocupação da torre por parte de Saruman em 2759 da Terceira Era, não sendo por isso o seu nome original; a dúvida reside em saber se o élfico Orthanc seria então o nome que os homens de Gondor deram à torre aquando da sua fundação, ou se resulta de uma incrível coincidência de palavras que se adaptam às características da torre, e o nome original desta se tenha perdido para sempre.
A construção de Orthanc, inserida no complexo de Angrenost, teve por objectivo assegurar a defesa e a vigia da Falha de Calenardhon (função que desempenhava em parceria com a Fortaleza de Aglarond situada na ponta Norte das Ered Nimrais) de possíveis ataques de Homens Selvagens. Com o passar dos anos esta ameaça foi-se esvaindo e a importância de Orthanc decaiu até ao seu abandono.
Até que, em 2759 da T.E., Beren, Mordomo de Gondor, entregou as chaves de Orthanc a Saruman, até à dará aliado dos Povos Livres da Terra Média. No entanto, a corrupção de Saruman arrastou consigo Orthanc, que se viu transformada numa versão reduzida de Barad-dûr, a Torre Negra a partir da qual Sauron liderava os exércitos das Trevas.
Apesar de durante a Guerra do Anel os Ents terem arrasado Isengard, Orthanc manteve-se inquebrável e continuou a maravilhar os viajantes com toda a sua majestosidade.
Meduseld
Era a partir deste Palácio Dourado que os soberanos da Marca governavam o valoroso povo dos Rohirrim. Situado na capital do reino, Edoras, Meduseld foi construído por ordem de Eorl, o Jovem, o primeiro rei de Rohan; no entanto, os trabalhos só foram concluídos em 2569 da Terceira Era durante o reinado do seu filho Brego.
O reflexo dourado do Palácio podia ser visto de muito longe, mas apenas o olhar élfico, como o de Legolas, podia ver qual a sua fonte: “Um grande palácio de Homens, o qual parece (…) ter um telhado de ouro. A sua luz brilha, numa grande extensão, sobre a terra. Douradas também são as ombreiras das suas portas…” (As Duas Torres – O Rei do Palácio Dourado). No interior do palácio encontrava-se um salão comprido e largo cheio de sombras e meias-luzes, cujo tecto alto era sustentado por enormes colunas.
O seu chão estava pavimentado com pedras de muitas cores onde se misturavam runas ramificadas e estranhos sinais, no tecto existia uma clarabóia que permitia a quem estivesse no seu interior perscrutar os céus; as suas colunas encontravam-se ricamente esculpidas emitindo reflexos baços de ouro e cores semivisíveis. Tapeçarias onde estavam representadas figuras da lenda antiga, pendiam nas paredes ora embaçadas pelos anos ora brilhando tenuemente na sombra (As Duas Torres – O Rei do Palácio Dourado).
De todas destacava-se a de “um jovem montado num cavalo branco. Soprava numa grande trompa e o seu cabelo amarelo voava ao vento. O cavalo tinha a cabeça levantada e as narinas dilatadas e vermelhas, enquanto o cheiro da batalha distante o fazia relinchar. À volta dos seus joelhos jorrava e redemoinhava água espumejante, verde e branca” (As Duas Torres – O Rei do Palácio Dourado). Era Eorl, o Jovem, o primeiro de uma série de reis de um povo simples mas valente, que tinha em Meduseld a sua mais significativa obra aos olhos do mundo.
Fortaleza de Aglarond (Abismo do Elmo)
O complexo defensivo de Aglarond foi construído nos primórdios de Gondor com o propósito de proteger a passagem de Calenardhon dos ataques de Homens Selvagens, função que desempenhava em conjunto com o círculo de Angrenost. Na Terceira Era passou a ser conhecido com Abismo do Elmo, como homenagem a Elmo, o nono rei de Rohan que durante o longo Inverno dessa Era aí encontrou refúgio dos ataques dos seus inimigos.
A fortaleza de Aglarond tinha o nome de Forte da Trompa, “pois uma trompa que tocasse na torre ecoaria pelo Abismo, atrás, como se exércitos havia muito esquecidos estivessem a guerrear…” (As Duas Torres – O Abismo do Elmo). Consistia basicamente numa torre dentro de dois pátios arredondados cada protegido por uma alta muralha. A muralha do segundo pátio fazia ligação com a Muralha do Abismo que seguia “do Forte da Trompa até ao penhasco do lado sul, vedando assim a entrada para o desfiladeiro” (As Duas Torres – O Abismo do Elmo).
Aglarond possuía ainda um atractivo natural, as Cavernas Cintilantes. Esta maravilha da natureza nunca foi explorada pelos povos que controlavam a região (Gondor e depois Rohan) talvez por receio de estragar todo o seu brilho. No final da Guerra do Anel, Gimli, um dos membros da Irmandade, fundou aí uma colónia de Anões.
Ao longo dos anos a Fortaleza de Aglarond foi palco de vários cenários de batalha, o último dos quais ocorreu durante a Guerra do Anel, ficando para a história com a Batalha do Forte da Trompa na qual o exército de Saruman foi derrotado, fazendo jus à lenda de que nunca inimigo algum conseguira derrotar os defensores do Abismo.
Dunharrow
Acima do Harrowdale, nas encostas das Ered Nimrais ficava o refúgio de Dunharrow. Obra de um tempo há muito esquecido, este refúgio era uma das construções mais antigas da Terra Média, não sendo certo que o construiu havendo a probabilidade de resultar de uma construção bipartida entre os Druedain, numa primeira fase, e Homens Selvagens (possivelmente Gwathuirrim) numa fase mais avançada. Para além de servir como refúgio quase impenetrável, Dunharrow teria algum propósito religioso como se pode inferir do seu nome: Dun-harug – Santuário da Colina.
A chegada a Dunharrow fazia-se por uma estrada sinuosa que subia a encosta em caracol, tendo a cada curva “grandes pedras que tinham sido esculpidas à semelhança de homens, enormes e de membros toscos, acocorados de pernas cruzadas e com os braços informes apoiados no ventre gordo” (O Regresso do Rei – A Concentração de Rohan). Eram os Homens de Púkel, obra dos Druedain, habilidosos artífices no trabalho com a pedra.
No topo encontrava-se um campo verde de erva e urze a que os homens de Rohan davam o nome de Firienfeld, dividido em dois por “uma fila dupla de pedras erectas não desbastadas que se iam perdendo no crepúsculo (...)” (O Regresso do Rei – A Concentração de Rohan). O propósito destas pedras não é conhecido, podendo-se apenas supor que teriam um significado místico um pouco à semelhança dos monólitos da história primitiva da Europa. Pelo seu aspecto pouco trabalhado é improvável que tenham sido lá colocadas pelos Druedain, sendo provável que tenham sido obra dos Homens Selvagens que povoaram a região.
Dunharrow é uma das maravilhas mais enigmáticas da Terra Média, não havendo certezas sobre os seus construtores e sobre a data da sua edificação, da qual apenas é possível afirmar que ocorreu “antes de um barco ter sequer chegado às costas ocidentais”.
Torre de Ecthelion
No último patamar da cidade de Minas Tirith, na Praça da Fonte, ficava a Torre de Ecthelion, também chamada de Torre Branca, “que subia, alta, na muralha mais elevada (…) a refulgir como um espigão de pérolas e prata, altaneira, bela e harmoniosa, com o pináculo a cintilar como se fosse de cristal” (O Regresso do Rei – Minas Tirith).
A Torre em si tinha uma altura de 300 pés (cerca de 91,44 m), mas contabilizando a altura total da cidade, o seu pináculo erguia-se a 1000 pés (≈ 304,8 m) acima dos Campos de Pelennor. Do alto dos seus parapeitos bandeiras brancas eram desfraldadas e um clangor, como se produzido por trompas de prata, recebia os seus visitantes às primeiras horas da manhã (adapt. O Regresso do Rei – Minas Tirith).
Mandada construir no reinado de Calimehtar, a Torre foi posteriormente reconstruída a mando do Mordomo Ecthelion I, recebendo por isso o seu nome. Numa das suas câmaras estava guardada um Palantír, conhecida como a Pedra de Anor.
A ligação entre a cidade e a Torre era tal que ambas se confundiam: a expressão “Torre Branca”, utilizada em particular para a Torre de Ecthelion, era muitas vezes utilizada para referência à toda a cidade.
A Torre de Ecthelion era sem dúvida alguma uma das mais belas construções da Terra Média que, tal como Orthanc, nunca foi capturada ou saqueada por inimigos. Do alto do seu pináculo, era um baluarte contra as trevas e representava todo o poder que Gondor em tempos possuíra.
Grande Ponte de Osgiliath
Aquando da fundação do reino de Gondor, Isildur e Anárion edificaram três grandes cidades: Minas Anor, Minas Ithil e Osgiliath. Osgiliath era a capital do reino, situada nas margens do rio Anduin, era a partir daí que os dois irmãos governavam os seus súbditos.
Aí “os Númenoreanos construíram uma grande ponte, na qual havia torres e casas de pedra de aspecto maravilhoso, e navios altos vinham do mar para os cais da cidade” (O Silmarillion – Dos Anéis de Poder e da Terceira Era: onde estas histórias chegam ao fim). Embora não nos seja fornecida qualquer descrição destas “torres e casas de pedra”, a sua mera existência é suficiente para nos apercebermos da magnitude da Ponte.
Era no grande Palácio dos Reis que Isildur e Anárion partilhavam o trono de Gondor. Embora não seja possível atestar com certeza a localização do palácio, não será de todo descabido pensar que seria uma das estruturas contidas na Ponte. A “Cúpula das Estrelas”, local onde estava guardada a Palantír de Osgiliath, situava-se no cimo da Ponte; embora não se trate de uma correlação linear, pode-se presumir que, atendendo à importância de tal artefacto, a sua localização não seria distante do local de onde os dois reis governavam.
A Cúpula (e grande parte dos edifícios contidos na Ponte) foi destruída durante a Matança das Famílias no ano de 1437 da Terceira Era. Mais tarde, em 2475 T.E., de um ataque proveniente de Minas Morgul (nome pelo qual Minas Ithil ficou conhecida após cair às mãos dos Nazgul) resultou a destruição da Grande Ponte de Osgiliath, ficando a sua imponência cadavérica como uma memória do tempo glorioso de Gondor.
Estes 7 monumentos representam o que de mais belo e impressionante os Homens da Terra Média criaram ao longo dos anos. Outras construções poderiam aqui ser incluídas sem que o resultado final fosse afectado, como são o caso Amon Hen, Amon Lhaw, Amon Sûl ou as Rammas Echor.
Fruto da audácia e da espantosa capacidade de criar, estas Maravilhas seriam concorrentes à altura das do nosso mundo.
Artigo escrito por ecthelion13