Beleg Cúthalion

Escrito por Gwen. Publicado em Personagens

Beleg era um Elfo de Doriath, um grande archeiro e chefe dos guardas das marcas de Thingol, também chamado Cúthalion, traduzido por “Arco Forte”, pois tinha um grande arco feito de madeira de teixo preto, com o nome de Belthrondig.

Quando Túrin, filho de Húrin e Morwen, que Thingol recebeu em Doriath e que amava como seu filho adoptivo, fez 17 anos, apresentou-se ao rei e pediu-lhe cota de malha e espada, pois desejava atacar o inimigo que o obrigava a estar separado da sua família. Thingol enviou-o para as marcas de Doriath onde poderia adquirir experiência de guerra, e entregou-lhe também o Elmo do Dragão de Dor-Lómin, herança da sua casa. Assim se juntou Túrin aos guerreiros élficos que lá travavam guerra incessante contra os Orcs e todos os servos de Morgoth. Túrin aprendeu com Beleg Arco Forte o manuseio do arco e da espada e passado pouco tempo, Beleg era o único dos guardas das marcas mais poderoso do que ele próprio; e ambos eram companheiros em todos os perigos e caminhavam juntos, até muito longe, nas florestas selvagens, combatendo o inimigo.

Mas passados três anos, Túrin teve um incidente com um Elfo e julgando-se um fora-da-lei, fugiu de Doriath e juntou-se a um grupo de homens desesperados e sem lar que existiam nesses tempos e que viviam escondidos nos lugares ermos. Em Doriath o desgosto de Melian e Thingol foi grande, pois depois de tudo esclarecido o rei perdoou Túrin, que considerou inocente; e confessou a Beleg que sofria com a sua partida e não queria que ninguém dissesse que ele fora impelido injustamente para os ermos. Então Beleg ofereceu-se para procurar Túrin e prometeu a Thingol que tudo faria para o trazer de volta, pois era muito seu amigo. E assim partiu de Menegroth e expondo-se a muitos perigos, procurou-o.

Descobriu o seu esconderijo passado um ano mas o bando de Túrin aprisionou-o e tratou-o cruelmente, pois pensavam que era um espião de Doriath e Túrin estava ausente nessa noite. Mas quando regressou e viu o seu amigo, Túrin encheu-se de remorsos por todos os actos maus e ilegais do bando, soltou Beleg, com quem reatou amizade e jurou abandonar de futuro a guerra ou o saque contra todos, excepto contra os servidores de Morgoth.

Beleg contou a Túrin do perdão do rei Thingol e procurou convencê-lo por todos os meios a regressar com ele a Doriath, dizendo-lhe haver grande necessidade da sua força e coragem nas marcas do reino escondido. Mas Túrin, orgulhoso, recusou o perdão do rei e insistiu com Beleg para permanecer com ele, pois queria comandar os seus homens e combater o inimigo, à sua maneira. No entanto, Beleg disse que tinha de regressar a Doriath e separaram-se amigos, mas tristes.

Beleg regressou às Mil Cavernas e contou a Thingol e Melian tudo quanto acontecera, excepto apenas o mau tratamento que recebera às mãos dos companheiros de Túrin, e o rei mostrou-se desgostoso com a sua obstinação. Então, Beleg pediu autorização a Thingol para partir para junto de Túrin, dizendo que faria tudo para o guardar e proteger. E o rei, comovido e agradecido, não só o autorizou como lhe disse que podia escolher o que quisesse, de todo o seu arsenal, excepto apenas a sua própria espada; e Beleg escolheu Anglachel, que era uma espada de grande mérito, feita por Eöl, o Elfo Escuro e forjada de ferro meteórico.

E partiu em busca de Túrin e quando o encontrou ficou junto dele em Amon Rûdh, em casa de Mîm, o pequeno Anão. Beleg labutou muito para o bem da companhia de Túrin, tratou dos doentes e feridos, pois possuía uma grande sabedoria. E como era forte, robusto e um grande guerreiro, de olhar penetrante, não só de visão como de mente, acabou por ser respeitado por todos, menos por Mîm, que invejava a grande amizade que unia Túrin e Beleg.

Muitos homens que andavam sem chefe nesse tempo ganharam novo alento e foram procurar os dois capitães e toda a região entre o rio Teiglin e o limite ocidental de Doriath passou a ser conhecida como Dor-Cúarthol – a Terra do Arco e do Elmo – que os orcs temiam e evitavam, pois diziam que lá residia um terror oculto. E a fama dos dois capitães tornou-se conhecida e uma nova esperança nasceu nos corações de muitos; mas também chegou ao conhecimento de Morgoth, e pelo Elmo do Dragão de Dor-Lómim ficou a saber onde estava o filho de Húrin e não tardou a que Amon Rûdh ficasse cercado de espiões.

Aconteceu que Mîm foi apanhado por Orcs uma vez que saíu em busca de raízes para a sua reserva de Inverno e revelou-lhes o esconderijo do bando de Túrin; e assim, guiados por Mîm, Túrin foi feito prisioneiro e os seus Homens foram mortos enquanto dormiam. Só Beleg sobreviveu, e apesar de estar muito ferido, partiu em busca de Túrin seguindo o rastro dos orcs, para o salvar do terror de Angband.

Depressa os alcançou, pois viajava sem dormir, mas quando chegou às terríveis florestas de Taur-nu-Fuin encontrou um Elfo que dormia ao pé de uma grande árvore. Beleg acordou-o e perguntou-lhe que destino o levara àquele terrível lugar. E o outro disse que se chamava Gwindor, de Nargothrond, aquele que na Batalha das Lágrimas Inumeráveis não aguentara a provocação dos Orcs quando deceparam as mãos, pés e a cabeça a seu irmão, Gelmir. Gwindor lançou-se como um louco contra a hoste inimiga e com tal fúria que chegaram às portas de Angband. Mas aí os Elfos de Nargothrond foram chacinados e Gwindor feito prisioneiro nas Minas do Norte. Mas por túneis secretos conseguiu fugir e assim sucedeu Beleg encontrá-lo esgotado e perdido na Floresta Sob a Noite.

Beleg deu-lhe lembas, tratou-o e observou-o, pesaroso, pois Gwindor transformara-se numa sombra curvada e receosa do que em tempos fora; mas Gwindor disse-lhe que, enquanto estava escondido entre as árvores, viu passar para Norte uma grande companhia de orcs e entre eles encontrava-se um homem acorrentado.

Então Beleg contou-lhe o que ele próprio fazia ali e Gwindor tentou dissuadi-lo do seu propósito, pois achava impossível o que Beleg se propunha fazer. Mas Beleg disse que não abandonaria Túrin às mãos de Morgoth e acabaram por partir juntos, seguindo os orcs. E já à vista dos picos das Thangorodrim viram o seu acampamento, rodeado de lobos-sentinelas; mas os orcs entregaram-se à bebida e à farra e por fim adormeceram todos. E Beleg, na escuridão, empunhou o seu grande arco e, um por um e silenciosamente, matou todos os sentinelas e depois, com grande perigo, entraram no acampamento e encontraram Túrin acorrentado e amarrado a uma árvore, inconsciente.

Beleg e Gwindor cortaram os laços que o prendiam, pegaram-lhe e levaram-no para fora do vale. Não conseguiram levá-lo muito longe, mas deitaram-no junto a um maciço de árvores, enquanto uma tempestade se aproximava.

Beleg desembainhou a sua espada Anglachel e com ela quebrou as correntes que prendiam Túrin; mas a lâmina resvalou e picou-lhe um pé. Túrin despertou bruscamente e num grande medo, e ao ver alguém inclinado sobre ele de espada desembainhada julgou que fossem orcs; e atirou-se ao vulto, na escuridão, apoderou-se da espada e com ela matou Beleg, tomando-o por um inimigo.

Mas brilhou sobre eles um grande relâmpago e Túrin ficou como que transformado em pedra, ao ver a morte horrível de Beleg e tomando consciência do que fizera. Gwindor estava igualmente aterrorizado.

Quando a manhã chegou, a tempestade passara e os orcs, pensando que Túrin tinha já fugido para muito longe e que a chuva apagara todos os traços da sua fuga, partiram apressadamente. E deixaram atrás de si Túrin, enlouquecido e desvairado, nas encostas de Taur-nu-Fuin, a sentir pesar sobre si um fardo muito mais pesado do que tinham sido as correntes dos seus inimigos.

Gwindor conseguiu convencer Túrin a ajudá-lo a sepultar Beleg e colocaram a seu lado Belthronding, o seu grande arco. Mas Gwindor pegou na terrível espada Anglachel, dizendo que seria melhor levá-la e usá-la para cobrar a vingança aos servos de Morgoth, do que deixá-la ali abandonada.

Assim acabou Beleg Arco Forte, morto pela mão daquele a quem mais amava; e essa mágoa ficou gravada no rosto de Túrin e nunca se apagou.

Gwindor conduziu Túrin para Nargothrond e estava sempre a seu lado para o guiar e proteger, pois Túrin não falava e caminhava como um louco.

Mas quando chegaram ao Lago Ivrin, protegido por Ulmo, Gwindor depositou nas mãos de Túrin Anglachel, dizendo que a espada chorava por Beleg, como ele. Mais tarde, já em Nargothrond, foi de novo forjada por hábeis ferreiros e Túrin deu-lhe um novo nome: Gurtang, “Ferro de Morte”.

Mas ali, junto ao Ivrin, protegido por Ulmo, Túrin ajoelhou e bebeu dessa água e por fim as lágrimas soltaram-se-lhe. E fez uma canção a Belg e cantou-a alto, alheio ao perigo: “Laer Cú Beleg” – A Canção do Grande Arco, dedicada ao mais leal e corajoso dos amigos e ao mais hábil de todos quantos se abrigavam nas Florestas de Beleriand.

Beleg
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